Postado 27 de julho de 2023 em Saúde, Todos por Europa
Quando se fala em desenvolvimento sustentável, ESG, mudanças e emergências climáticas, a água é elemento central. Não à toa, esse elemento tem um ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU) inteiro para chamar de seu.
O ODS 6 dedica-se exclusivamente a falar sobre água tratada e saneamento para todos. A meta para 2030 é clara: alcançar o acesso universal e equitativo à água potável e segura para todos.
Na semana do Dia Mundial da Água, a ONU emitiu um alerta sobre o risco iminente de uma crise global de escassez de água relacionada às mudanças climáticas. Juntamente com o alerta, houve a publicação do Relatório Mundial de Desenvolvimento da Água e também a realização de um evento exclusivo sobre o tema na sede da ONU, em NY.
A conferência buscou alinhar as estratégias sobre o tema e convocar os chefes de Estado a tomarem atitudes. O chamado é para direcionar mais investimentos em inovações que atendam às necessidades da população, especialmente as mais vulneráveis, que são gravemente afetadas pela escassez.
Atualmente, cerca de 4,6 bilhões de pessoas – mais da metade da população mundial – não têm acesso ao saneamento básico (água potável, tratamento de esgoto adequado, coleta e destinação de resíduos sólidos).
O saneamento básico é tratado como mercadoria e não como um direito humano. Sem água potável e saneamento não é possível viver com saúde. Cerca de 70% das doenças que levam a internações são decorrentes do contato com água poluída. Mais de 800 crianças morrem diariamente de doenças causadas pela veiculação hídrica.
E o que causa ainda mais revolta nessa realidade é saber que é muito mais barato investir na solução que lidar com as consequências da escassez. O investimento médio anual para garantir a universalização do acesso à água potável e saneamento é de 110 bilhões de dólares, enquanto as perdas econômicas anuais em saúde por falta de saneamento giram em torno de 260 bilhões de dólares.
A previsão dos especialistas é que o número de pessoas em situação de escassez só aumente em decorrência dos eventos de emergência climática: até 2050, 5,7 bilhões de pessoas poderão viver em áreas com falta de água pelo menos uma vez ao ano. Hoje, esse número está em 4 bilhões. Em relação a desastres naturais, a previsão é de que 7 em cada 10 mortes estejam ligadas a inundações e outros eventos relacionados à água.
Apesar da abundância hídrica natural, o nosso país tem muito com o que se preocupar. Segundo o ranking de saneamento do TRATA Brasil de 2023, a falta de acesso à água tratada impacta cerca de 35 milhões de brasileiros.
Um dos maiores desafios é reduzir a perda hídrica no caminho até as residências: o país perde cerca de 40% do total da água potável captada nas redes de distribuição. Esse dado evidencia a ineficiência do atual sistema e indica que é urgente direcionar recursos para inovações nesta área.
Já a falta de saneamento afeta cerca de 100 milhões de pessoas no país, ou seja, apenas 51% do volume de esgoto gerado é tratado de fato. Isso significa que o equivalente a 5,5 mil piscinas olímpicas cheias de esgoto não tratado são despejadas na natureza todos os dias. Por isso vemos cada vez mais rios e praias poluídas e com índices de balneabilidade abaixo do esperado para o uso como lazer.
Já existem tecnologias com sistemas descentralizados de tratamento de esgoto (wetlands, tratamentos por biodigestão e evapotranspiração, banheiros secos compostáveis, entre outros), mas o investimento nesta área deixa muito a desejar, seja em pesquisas, seja em execução. Sua implementação em grande escala é barrada por legislações e normas rígidas direcionadas ao sistema atual, que não atendem às necessidades reais da população brasileira.
A falta de saneamento básico afeta a vida das famílias como um todo, mas especialmente a vida das mulheres. Estatisticamente são elas as responsáveis pelas tarefas domésticas e pelo cuidado das crianças e, ao ficarem doentes ou precisarem cuidar dos filhos doentes, acabam faltando ao trabalho ou aos estudos. Isso faz com que elas tenham um déficit tanto financeiro quanto educacional em relação aos homens.
Um mostra que o número de mulheres sem acesso à água tratada no nosso país aumentou entre 2018 e 2022: de 15,2 milhões, saltou para 15,8 milhões. Isso quer dizer que uma em cada quatro mulheres não tem acesso à água tratada ou não é abastecida com regularidade.
Mas o mais impressionante foi o salto de mulheres impactadas pela falta de acesso à coleta de esgoto: 26,9 milhões para 41,4 milhões. Ou seja: 38,2% da população feminina reside em casas sem coleta de esgoto. A universalização do saneamento básico tiraria 18,4 milhões de mulheres da condição de pobreza.
Temos que acelerar os esforços para enfrentar esses desafios relacionados à água, que impactam diversos setores da nossa sociedade e o nosso planeta de diversas formas, inclusive agravando a desigualdade de gênero que tantas mulheres lutam para combater.
O consumo excessivo, a falta de tratamento, assim como o alto risco de secas e enchentes só aumenta a pressão pela necessidade de uma gestão eficiente de recursos hídricos e da manutenção dos nossos ecossistemas. Agir é urgente!
Referências: