Postado 22 de setembro de 2022 em Saúde, Sustentabilidade, Todos por Europa
Segundo um estudo recente, existem medicamentos nos rios de diversos locais do planeta. Foram coletadas amostras de água de mais de mil locais, em 104 países de todos os continentes. O que representa, portanto, uma “impressão digital” de 471,4 milhões de pessoas.
A pesquisa aponta este tipo de poluição como uma ameaça global à saúde, bem como ao meio ambiente. Publicado em uma revista especializada, o levantamento aponta a presença de componentes farmacêuticos em 43,5% dos rios avaliados.
Entre os mais poluídos, estão alguns rios do Paquistão, Bolívia e Etiópia. No entanto, os rios da Islândia, da Noruega e da floresta amazônica se saíram melhor. Definitivamente, percebemos a correlação com o desenvolvimento econômico dos países e este resultado.
Não é de hoje que se discute o problema de medicamentos nos rios, bem como microplásticos e agrotóxicos. Por outro lado, ainda não existem tratamentos específicos para este tipo de substância.
Como resultado, ficamos expostos a riscos ainda desconhecidos causados por estes componentes. Vamos entender melhor o que o estudo revelou sobre os medicamentos nos rios e quais os impactos desta descoberta.
Antes de mais nada, vamos tentar explicar como estes componentes atingem as águas fluviais. A cada ano que passa, os humanos ingerem mais antibióticos do que no ano anterior.
Assim, apenas em 2015 foram consumidas 34,8 bilhões de doses diárias de antibióticos no mundo. Já em 2018, segundo relatório da OMS, o Brasil consumia 22,75 doses diárias a cada mil habitantes.
Esses remédios possibilitam que a vida de milhões de pessoas com infecções sejam poupadas. No entanto, essas substâncias continuam agindo no meio ambiente depois de terem cumprido seu papel no nosso corpo.
O organismo humano não decompõe totalmente os medicamentos. Como resultado, o excesso é excretado na urina ou atinge o esgoto. E é assim que acontece a poluição por medicamentos nos rios.
Nem mesmo as estações de tratamento mais avançadas do mundo são capazes de limpar estes químicos presentes na água.
Por outro lado, em muitos países subdesenvolvidos, o esgoto não é nem tratado. Dessa forma, os medicamentos nos rios chegam diretamente. Assim, não só os remédios como também os microorganismos podem causar danos à saúde por água contaminada.
Segundo um relatório do Pnuma, 90% dos antibióticos são lançados no meio ambiente ainda como substâncias ativas. De acordo com especialistas, a poluição farmacêutica só vai piorar. Isto porque, estamos utilizando cada vez mais soluções medicamentosas para qualquer tipo de doença.
Ainda não sabemos o impacto total que os medicamentos nos rios causam. Apesar disso, já se sabe que é negativo e que precisamos resolver esta situação com emergência.
A princípio, foi possível concluir que o problema é realmente global. Isto porque nenhum continente está imune dos medicamentos nos rios. Pesquisadores encontraram traços de pelo menos um medicamento em 65% de todas as amostras.
Isto não é surpreendente, afinal, as pessoas usam remédios todos os dias em todos os lugares do mundo. Assim, as amostras coletadas apontaram a presença de 23 ingredientes farmacológicos acima da concentração limite.
Mais de 25% dos rios amostrados tinham ingredientes farmacêuticos ativos presentes em um nível considerado inseguro para organismos aquáticos.
Segundo pesquisadores, há mais do que apenas antibióticos dentre os medicamentos nos rios. Foram encontradas substâncias como antidepressivos, antimicrobianos, antifúngicos, analgésicos, progesterona e outros.
Juntamente com estas substâncias, encontraram altas concentrações de compostos como cafeína (café), nicotina (cigarros) e paracetamol.
Dos medicamentos nos rios, os mais encontrados foram a carbamazepina e a metformina. O primeiro é usado para tratar a epilepsia e dores nos nervos, já o segundo é usado para tratar diabetes.
Assim também, na África, a artemisinina, que é usada contra malária, também foi encontrada em altas concentrações. Os locais mais poluídos estavam em grande parte em países de baixa e média renda. Igualmente, em áreas onde havia despejo de esgoto, má gestão de águas e fabricação de produtos farmacêuticos.
Logo, os locais com menos estrutura tornam as populações mais vulneráveis ainda mais expostas aos riscos. Se quiser acesso ao estudo completo, clique aqui.
Segundo um relatório de 2016, todo ano, cerca de 700 mil pessoas morrem de infecções resistentes aos antibióticos. Especialistas e oficiais de saúde pública temem que esse número cresça exponencialmente conforme aumenta a resistência aos medicamentos.
E qual o papel dos medicamentos nos rios? O excesso dos remédios atinge os sistemas naturais e influencia as bactérias que lá habitam. Como resultado, a poluição de componentes farmacêuticos ajuda a acelerar o desenvolvimento de cepas resistentes.
Até 2050, infecções resistentes a antimicrobianos podem ser a principal causa de morte em todo o mundo. Logo, entendemos que os microrganismos resistentes a medicamentos nos rios podem provocar outra pandemia.
Quando ameaçadas, as bactérias são especialmente boas e rápidas em substituir seus genes. Um antibiótico, por exemplo, representa uma ameaça. Assim, essa evolução pode acontecer até mesmo com baixas concentrações do medicamento.
Em alguns rios, como em Bangladesh, há medicamentos com concentrações 300 vezes acima do limite seguro. Ou seja, é um ambiente altamente propício ao aumento da resistência dos microorganismos.
Enfim, podemos entender o problema dos medicamentos nos rios como a poluição de plástico. Pensamos apenas na produção e no consumo. No entanto, não pensamos no descarte dos produtos e no seu impacto no meio ambiente.
Assim também, a poluição por ingredientes farmacêuticos também rompe um delicado equilíbrio. Os medicamentos nos rios e córregos afetam todos os tipos de processos ecológicos.
O momento de encontrar soluções é agora. É preciso impedir que os antibióticos atinjam os rios para prevenir os graves prejuízos à saúde humana.
Definitivamente, a situação já avançou bastante, mas ainda há algo a fazer. Uma das coisas que podem surtir efeito é o uso adequado de medicamentos. Afinal, temos usado cada vez mais remédios para tratar todo e qualquer tipo de doença. Portanto, é preciso dificultar a obtenção de medicamentos como antibióticos e impor restrições mais rígidas nas doses.
Da mesma forma, o descarte correto de remédios sem uso e vencidos é uma boa medida. Você sabia que as farmácias são obrigadas por lei a terem dispositivos de logística reversa?
Atualmente, é possível levar estes resíduos para o descarte correto nas drogarias. No entanto, a abrangência cobre apenas remédios domiciliares, de uso humano (vencidos e/ou em desuso), e suas respectivas embalagens.
Como resultado, tomamos mais uma precaução para evitar a chegada dos medicamentos nos rios.
E você, tem o hábito de se automedicar? Já adotou a prática do descarte correto de remédios? Fique ligado e ajude a combater este problema que afeta todos nós!