Postado 7 de abril de 2016 em Todos, Tudo Sobre Água por Andreo
Hoje em dia, vivendo em grandes centros urbanos, rodeados por carros, prédios e gigantescas avenidas, não conseguimos imaginar como um rio pode ser importante para o nosso desenvolvimento. Certamente ele deixa a cidade mais bela (quando não é poluído), talvez até possa ajudar a diminuir a poluição (quando suas margens são arborizadas), mas qual poderia ser sua utilidade?, podemos nos perguntar. Nossa ideia de rio muitas vezes se limita àquele caminho de água que corta a nossa cidade. E em nossa era contemporânea, em que a natureza parece estar cada dia mais distante de nossa vivência, pode ser difícil de pensar em uma resposta para essa pergunta. Mas os rios foram os responsáveis pela construção e pelo desenvolvimento das primeiras grandes civilizações. E como isso aconteceu?
Vamos voltar para todo o período que precede 4000 a.C., o Período Neolítico. O ser humano vivia de forma nômade, o que significa que para conseguir alimento ele precisava mudar constantemente de lugar: instalava-se em uma região, aproveitava o que ela podia oferecer (plantas, animais, abrigo) e, quando os recursos se esgotavam, buscava outro local. Era custoso, perigoso e demandava muita energia física, pois precisavam deslocar tribos inteiras. Mas imaginemos que encontrassem um local privilegiado, onde percebem que a terra é fértil, onde há um rio que permite ser desviado para nutrir as terras que o circundam e que oferece fartura de água para as necessidades físicas. Quando encontraram essa região, estabeleceram um marco definitivo para a história humana: o desenvolvimento da agricultura. Percebendo que poderiam plantar sua própria comida e criar seus próprios animais, passaram a se fixar em um local.
O chamado Crescente Fértil foi esse local perfeito. Irrigado pelos rios Jordão, Eufrates, Tigre e Nilo, que compreende hoje os territórios de Palestina, Israel, Jordânia, Kuwait, Líbano e Chipre, além de partes da Síria, do Iraque, do Egito, do sudeste da Turquia e sudoeste do Irã, o Crescente Fértil foi onde as primeiras grandes civilizações se desenvolveram. A região recebeu esse nome por conta de seu formato de lua crescente, e também pela extrema fertilidade de seu solo, que rasga áreas desérticas completamente inóspitas e impróprias para povoamento constante e estável. Apesar da primazia da região, e de sua antiguidade com relação à ocupação humana, o termo “Crescente Fértil” é de criação bastante recente, tendo sido utilizado pela primeira vez pelo arqueólogo James Henry Breasted, na sua obra “Ancient Records of Egypt”, de 1906, e adotada a partir daí.
Livre de todos os problemas acarretados por ter que se locomover, e agora conseguindo plantar seu próprio alimento, a população começou a aumentar, já que havia comida para todos. As primeiras cidades foram formadas nas regiões da Mesopotâmia e do Egito, locais onde os homens passaram a se organizar em sociedade. Entre regiões desérticas, o povo egípcio floresceu ao longo do Rio Nilo, e tinha nele o deus que tornava férteis as terras. Talvez você já tenha ouvido que o Egito é uma dádiva do Nilo. A frase do historiador Heródoto não carrega mentira: a construção e a existência da grande civilização egípcia só foi possível pela existência do Rio. No entanto, precisamos também destacar a habilidade da civilização egípcia em lidar com as cheias do Rio, em controlar a água e desenvolver técnicas de irrigação e de agricultura. Além dos conhecimentos diversos, desde a escrita, matemática, medicina, arquitetura, artes, criação do calendário e tantos outros, os egípcios deixaram um legado que sobrevive, intriga e encanta, como as grandes pirâmides, os templos e túmulos.
A fertilidade das terras do entorno do Rio Jordão e seus afluentes também criou o ambiente para que se formasse na região uma série de aldeias de povos pastores (em sua maioria de origem semita), que logo desenvolveram a agricultura. Por sua vez, os Rios Tigres e Eufrates foram de extrema importância para o nascimento da civilização Suméria, que se desenvolveu na região da Mesopotâmia (cujo nome vem do grego, e significa “entre rios”). A região banhada por eles (hoje o Iraque) foi habitada por povos como os Acádios, Babilônios, Assírios e Caldeus.
Pode ser que hoje, para nós, um rio não signifique muita coisa. Já passamos por milhares de anos de história humana, construímos cidades, desenvolvemos a Indústria, fomos para a Lua, criamos tecnologias que nos permitem ver, em tempo real, alguém que está do outro lado do mundo. Mas tudo isso foi possível graças à engenhosidade de civilizações que viram em um rio e suas margens a possibilidade de sobrevivência e desenvolvimento.
E se voltássemos a ver um pouco mais dessa maneira? 😉